IJoão Romão foi dos treze aos vinte e cinco anos, empregado de um vendeiro que enriqueceu entre as quatro paredes de uma suja e obscura taverna nos refolhos do bairro do Botafogo; e tanto economizou do pouco que ganhara nessa dúzia de anos, que, ao retirar-se o patrão para a terra, lhe deixou, em pagamento de ordenados vencidos, nem só a venda com o que estava dentro, como ainda um conto e quinhentos em dinheiro.
Proprietário e estabelecido por sua conta, o rapaz atirou-se à labutação
ainda com mais ardor, possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava resignadas
as mais duras privações. Dormia sobre o balcão da própria venda, em cima de uma
esteira, fazendo travesseiro de um saco de estopa cheio de palha. A comida
arranjava-lha, mediante quatrocentos réis por dia, uma quitandeira sua vizinha,
a Bertoleza, crioula trintona, escrava de um velho cego residente em Juiz de
Fora e amigada com um português que tinha uma carroça de mão e fazia fretes na
cidade.
Bertoleza também trabalhava forte; a sua quitanda era a mais bem afrequezada
do bairro. De manhã vendia angu, e à noite peixe frito e iscas de fígado;
pagava de jornal a seu dono vinte mil-réis por mês, e, apesar disso, tinha de
parte quase que o necessário para a alforria. Um dia, porém, o seu homem,
depois de correr meia légua, puxando uma carga superior às suas forças, caiu
morto na rua, ao lado da carroça, estrompado como uma besta.
João Romão mostrou grande
interesse por esta desgraça, fez-se até participante direto dos sofrimentos da
vizinha, e com tamanho empenho a lamentou, que a boa mulher o escolheu para
confidente das suas desventuras. Abriu-se com ele, contou-lhe a sua vida de
amofinações e dificuldades. “Seu senhor comia-lhe a pele do corpo! Não era
brinquedo para uma pobre mulher ter de escarrar pr’ali, todos os meses, vinte
mil-réis em dinheiro!” E segredou-lhe então o que tinha juntado para a sua
liberdade e acabou pedindo ao vendeiro que lhe guardasse as economias, porque
já de certa vez fora roubada por gatunos que lhe entraram na quitanda pelos
fundos.
“O senhor de
Bertoleza não teve sequer conhecimento do fato; o que lhe constou, sim, foi que
a sua escrava lhe havia fugido para a Bahia depois da morte do amigo”.
“— O cego que
venha buscá-la aqui, se for capaz”... Desafiou o vendeiro de si para si. “Ele
que caia nessa e verá se tem ou não pra peras”!
“Não
obstante, só ficou tranquilo de todo daí a três meses, quando lhe constou a
morte do velho. A escrava passara naturalmente em herança a qualquer dos filhos
do morto”.
"João Romão não saia nunca a passeio, nem ia à missa aos domingos;
tudo que rendia a sua venda e mais a quitanda seguia direitinho para a caixa
econômica e daí então para o banco. Tanto assim que, um ano depois da aquisição
da crioula, indo à hasta pública algumas braças de terra situadas ao fundo da
taverna, arrematou-as logo e tratou, sem perda de tempo, de construir três
casinhas de porta e janela."
Depois, um
tomava uma carga e partia para casa, enquanto o outro ficava de alcateia ao
lado do resto, pronto a dar sinal, em caso de perigo; e, quando o que tinha ido
voltava, seguia então o companheiro, carregado por sua vez.
Nada lhes
escapava, nem mesmo as escadas dos pedreiros, os cavalos de pau, o banco ou a
ferramenta dos marceneiros.
E o fato é que
aquelas três casinhas, tão engenhosamente construídas, foram o ponto de partida
do grande cortiço de São Romão.
Hoje
quatro braças de terra, amanhã seis, depois mais outras, ia o vendeiro
conquistando todo o terreno que se estendia pelos fundos da sua bodega; e, à
proporção que o conquistava, reproduziam-se os quartos e o número de moradores.
II
João Romão veio
afinal a comprar uma boa parte da
Bela pedreira,
que ele, todos os dias, ao cair da tarde, assentado um instante à porta da
venda, contemplava de longe com um resignado olhar de cobiça.
Pôs
lá seis homens a quebrarem pedra e outros seis a fazerem lajedos e
paralelepípedos, e então principiou a ganhar em grosso, tão em grosso que,
dentro de ano e meio, arrematava já todo o espaço compreendido entre as suas
casinhas e a pedreira, isto é, umas oitenta braças de fundo sobre vinte de
frente em plano enxuto e magnífico para construir.
Justamente
por essa ocasião vendeu-se também um sobrado que ficava à direita da venda, separado
desta apenas por aquelas vinte braças; de sorte que todo o flanco esquerdo do
prédio, coisa de uns vinte e tantos metros, despejava para o terreno do
vendeiro as suas nove janelas de peitoril. Comprou-o tal Miranda, negociante português, estabelecido na
Rua do Hospício com uma loja de fazendas por atacado. Corrida uma
limpeza geral no casarão, mudar-se-ia ele para lá com a família, pois que a
mulher, Dona
Estela,
senhora pretensiosa e com fumaças de nobreza, já não podia suportar a
residência no centro da cidade, como também sua menina, a Zulmirinha, crescia muito pálida e precisava de
largueza para enrijar e tomar corpo.
Isto
foi o que disse o Miranda aos colegas, porém a verdadeira causa da mudança
estava na necessidade, que ele reconhecia urgente, de afastar Dona Estela do
alcance dos seus caixeiros. Dona Estela era uma mulherzinha levada da breca: achava-se casada havia treze anos e
durante esse tempo dera ao marido toda sorte de desgostos. Ainda antes de
terminar o segundo ano de matrimônio, o Miranda pilhou-a em flagrante delito de
adultério; ficou furioso e o seu primeiro impulso foi de mandá-la para o diabo
junto com o cúmplice; mas a sua casa comercial garantia-se com o dote que ela
trouxera, uns oitenta contos em prédios e ações da divida publica, de que se
utilizava o desgraçado tanto quanto lhe permitia o regime dotal. Além de que,
um rompimento brusco seria obra para escândalo, e, segundo a sua opinião,
qualquer escândalo doméstico ficava muito mal a um negociante de certa ordem. Prezava,
acima de tudo, a sua posição social e tremia só com a ideia de ver-se novamente
pobre, sem recursos e sem coragem para recomeçar a vida, depois de se haver
habituado a umas tantas regalias e afeito à hombridade de português rico que já
não tem pátria na Europa.
Miranda se sentia mal com a vista que tinha e foi negociar com João, as
Terras dele, que acabou não vendendo, João também queria mais terra e dali saiu
uma rivalidade entre os "portugas”.
Não
obstante, as casinhas do cortiço, à proporção que se atamancavam, enchiam-se
logo, sem mesmo dar tempo a que as tintas secassem. Havia grande avidez em
alugá-las; aquele era o melhor ponto do bairro para a gente do trabalho. Os
empregados da pedreira preferiam todos morar lá, porque ficavam a dois passos
da obrigação.
Graças
à abundância da água que lá havia, como em nenhuma outra parte, e graças ao
muito espaço de que se dispunha no cortiço para estender a roupa, a
concorrência às tinas não se fez esperar; acudiram lavadeiras de todos os
pontos da cidade, entre elas algumas vindas de bem longe. E, mal vagava uma das
casinhas, ou um quarto, um canto onde coubesse um colchão, surgia uma nuvem de
pretendentes a disputá-los.
"Tinha
inveja do outro, daquele outro português que fizera fortuna, sem precisar roer
nenhum chifre; daquele outro que, para serem mais ricas três vezes do que ele,
não teve de casar com a filha do patrão ou com a bastarda de algum fazendeiro
freguês da casa!"
Zulmira tinha então doze para treze anos e era o
tipo acabado da fluminense; pálida, magrinha, com pequeninas manchas
roxas nas mucosas do nariz, das pálpebras e dos lábios, faces levemente
pintalgadas de sardas. Respirava o tom úmido das flores noturnas, uma brancura
fria de magnólia; cabelos castanho-claros, mãos quase transparentes, unhas
moles e curtas, como as da mãe, dentes pouco mais claros do que a cútis do
rosto, pés pequeninos, quadril estreito, mas os olhos grandes, negros, vivos e
maliciosos.
Por essa época,
justamente, chegava de Minas, recomendado ao pai dela, o filho de um fazendeiro
importantíssimo que dava belos lucros ao Miranda.
O
rapaz chamava-se Henrique, tinha quinze anos e vinha terminar na
corte alguns preparatórios que lhe faltavam para entrar na Academia de
Medicina. Miranda hospedou-o no seu sobrado da Rua do Hospício, mas o estudante
queixou-se, no fim de alguns dias, de que ai ficava mal acomodado, e o
negociante, a quem não convinha desagradar-lhe, carregou com ele para a sua
residência particular de Botafogo.
Havia ainda, sob
as telhas do negociante, um outro hóspede além do Henrique, o velho Botelho. Este, porém, na qualidade de parasita.
Era um
pobre-diabo caminhando para os setenta anos, antipático, cabelo branco, curto e
duro, como escova, barba e bigode do mesmo teor; muito macilento, com uns
óculos redondos que lhe aumentavam o tamanho da pupila e davam-lhe à cara uma
expressão de abutre, perfeitamente de acordo com o seu nariz adunco e com a sua
boca sem lábios: viam-se-lhe ainda todos os dentes, mas, tão gastos, que
pareciam limados até ao meio. Andava sempre de preto, com um guarda-chuva
debaixo do braço e um chapéu de Braga enterrado nas orelhas. Fora em seu tempo
empregado do comércio, depois corretor de escravos; contava mesmo que estivera
mais de uma vez na África negociando negros por sua conta. Atirou-se muito às
especulações; durante a guerra do Paraguai ainda ganhara forte, chegando a ser
bem rico; mas a roda desandou e, de malogro em malogro, foi-lhe escapando tudo
por entre as suas garras de ave de rapina. E agora, coitado, já velho, comido
de desilusões, cheio de hemorroidas, via-se totalmente sem recursos e vegetava a
sombra do
Mirada,
com quem por muitos anos trabalhou em rapaz, sob as ordens do mesmo patrão, e
de quem se conservara amigo, a principio por acaso e mais tarde por
necessidade.
Botelho
conhecia as faltas de Estela como as palmas da própria mão.
O
parasita, feliz por ver quanto o amigo aviltava a mulher, concordava em tudo plenamente,
dando-lhe um carinhoso abraço de admiração.
Mulher — Desgraçadamente para nós, mulheres
de sociedade não podem viver sem esposo, quando somos casadas.
— Olhe,
continuou, acariciando-o sempre; não se meta com donzelas, entende?... É
o diabo! Por dá cá aquela palha fica um homem em apuros! Agora quanto às
outras, papo com elas! Não mande nenhuma ao vigário, nem lhe doa a cabeça,
porque, no fim de contas, nas circunstâncias de Dona Estela, é até um grande
serviço que você lhe faz! Meu rico amiguinho, quando uma mulher já passou dos
trinta e pilha a jeito um rapazito da sua idade, é como se descobrisse ouro em
pó!
Não se meta com
a Zulmira! E creia que lhe falo assim, porque sou seu amigo, porque o acho
simpático, porque o acho bonito!
E acarinhou-o
tão vivamente dessa vez, que o estudante, fugindo-lhe das mãos,
afastou-se com um gesto de repugnância e desprezo, enquanto o velho lhe dizia
em voz comprimida:
—
Olha! Espera! Vem cá! Você é desconfiado!...
III
Vidas e personagens do cortiço
Lavadeiras lavando roupa Rita baiana
Vinda de Jerônimo para trabalhar na construtora.
IV
Nesta parte Jerônimo aponta falhas na pedreira que acaba ficando como
gerente geral da pedreira com um salário superior aos outros.
—
Pois está fechado o negócio! Deliberou João Romão, convencido de que não podia,
por economia, dispensar um homem daqueles. E pensou lá de si para si: “Os meus
setenta mil-réis voltar-me-ão à gaveta. Tudo me fica em casa!”.
V
No dia seguinte Jerônimo vai para o São Romão muito sedo com sua mulher
A
mulher chamava-se Piedade de Jesus; teria trinta anos, boa estatura, carne
ampla e rija, cabelos fortes de um castanho fulvo, dentes pouco alvos, mas
sólidos e perfeitos, cara cheia, fisionomia aberta; um todo de bonomia
toleirona, desabotoando-lhe pelos olhos e pela boca numa simpática expressão de
honestidade simples e natural.
Jerônimo
acordava todos os dias às quatro horas da manhã, fazia antes dos outros
a sua lavagem à bica do pátio, socava-se depois com uma boa palangana de caldo
de unto, acompanhada de um pão de quatro; e, em mangas de camisa de riscado, a
cabeça ao vento, os grossos pés sem meias metidos em um formidável par de
chinelos de couro cru, seguia para a pedreira.
Candeeiro
de querosene conversavam sobre a sua vida e sobre a sua Marmita, a filhinha que estava no colégio e que
só os visitava aos domingos e dias santos.
"saudades da pátria"
E o
canto daquela guitarra estrangeira era um lamento choroso e dolorido, eram
vozes magoadas, mais tristes do que uma oração em alto-mar, quando a tempestade
agita as negras asas homicidas, e as gaivotas doidejam assanhadas, cortando a
treva com os seus gemidos, tontas como se estivessem fechadas dentro de uma
abóbada de chumbo.
VI
"domingo era um dia diferente a onde todos se vestia, de forma mais
linda arrumados para festejar.
Mas uma personagem ressurge RITA BAHIANA"
Acudiu
quase todo o cortiço para recebê-la. Choveram abraços e as chufas do bom
acolhimento.
Mas onde
estiveste tu enterrada tanto tempo, criatura?
— Em
Jacarepaguá.
— Com quem?
— Com o Firmo...
— Oh! Ainda dura
isso?
— Cala a boca! A
coisa agora é séria!
— Qual! Quem
mesmo? Tu? Passa fora!
—
Paixões da Rita! Exclamou o Bruno com uma risada.
— Cadê Pombinha?
Perguntou à mulata.
Mas, nessa
ocasião, Pombinha acabava justamente de sair de casa, muito bonita e asseada
com um vestido novo de cetineta. As mãos ocupadas com o livro de rezas, o lenço
e a sombrinha.
—
Ah! Como está chique! Exclamou a Rita, meneando a cabeça. É mesmo uma flor! — e
logo que Pombinha se pôs ao seu alcance, abraçou-lhe a cintura e deu-lhe um
beijo. — O João Costa se não te fizer feliz como os anjos sou capaz de
abrir-lhe o casco com o salto do chinelo! Juro pelos cabelos do meu homem! — E
depois, tornando-se séria, perguntou muito em voz baixa a Dona Isabel: — Já
veio?... Ao que a velha respondeu negativamente com um desconsolado e mudo
abanar de orelhas.
VII
E assim ia
correndo o domingo no cortiço até às três da tarde, horas em que chegou mestre
Firmo, acompanhado pelo seu amigo Porfiro, trazendo aquele o violão e o outro o
cavaquinho.
Firmo o atual amante de Rita Baiana, era um mulato pachola, delgado de corpo e ágil como
um cabrito; capadócio de marca, pernóstico, só de maçadas, e todo ele se
quebrando nos seus movimentos de capoeira. Teria seus trinta e tantos anos, mas
não parecia ter mais de vinte e poucos. Pernas e braços finos, pescoço
estreito, porém forte; não tinha músculos, tinha nervos. A respeito de barba,
nada mais que um bigodinho crespo, petulante, onde reluzia cheirosa a
brilhantina do barbeiro; grande cabeleira encaracolada, negra, e bem negra,
dividida ao meio da cabeça, escondendo parte da testa e estufando em grande
gaforina por debaixo da aba do chapéu de palha, que ele punha de banda,
derreado sobre a orelha esquerda.
Vestia,
como de costume, um paletó de lustrina preta já bastante usado, calças
apertadas nos joelhos, mas tão largas na bainha que lhe engoliam os pezinhos
secos e ligeiros. Não trazia gravata, nem colete, sim uma camisa de chita nova
e ao pescoço, resguardando o colarinho, um lenço alvo e perfumado; à boca um
enorme charuto de dois vinténs e na mão um grosso porrete de Petrópolis, que
nunca sossegava tantas voltas lhe dava ele há um tempo por entre os dedos
magros e nervosos.
O
velho Libório! Ocupava
o pior canto do cortiço e andava sempre a fariscar os sobejos alheios, filando aqui, filando
ali, pedindo a um e a outro, como um mendigo, chorando misérias eternamente,
apanhando pontas de cigarro para fumar no cachimbo, que o sumítico roubara de
um pobre cego decrépito. Na estalagem diziam, todavia que Libório tinha
dinheiro aferrolhado, contra o que ele protestava ressentido, jurando a sua
extrema penaria. E era tão feroz o demônio naquela fome de cão sem dono, que as
mães recomendavam às suas crianças todo o cuidado com ele, porque o diabo do
velho, quando via algum pequeno desacompanhado, punha-se logo a rondá-lo, a
cercá-lo de festas e a fazer-lhe.
Ratices
para o engabelar, até conseguir furtar-lhe o doce ou o vintenzinho que o
pobrezito trazia fechado na mão.
E
viu a Rita Baiana, QUE surgir de ombros e braços nus, para dançar. A lua
destoldara-se nesse momento, envolvendo-a na sua coma de prata, a cujo refulgir
os meneios da mestiça melhor se acentuavam, cheios de uma graça irresistível,
simples, primitiva, feita toda de pecado, toda de paraíso, com muito de
serpente e muito de mulher.
"e dali ficou louco por ela"
VIII
Aqui Jerônimo fica doente
Era
o caso que o Henriquinho da casa do Miranda ficava às vezes à janela do
sobrado, nas horas de preguiça, entre o almoço e o jantar, entretido a ver a Leocádia
lavar.
Ela
meneou a cabeça afirmativamente, e ele fez-lhe sinal de que o esperasse por
detrás do cortiço, no capinzal dos fundos.
— Aqui!
E Leocádia olhou
para os lados, assegurando-se de que estavam a sós. Henrique, sem largar o
coelho, atirou-se sobre ela, que o conteve:
— Espera! Preciso
tirar a saia; está encharcada!
— Não faz mal! Segredou
ele, impaciente no seu desejo.
— Pode-me vir um
corrimento!
E sacou fora a
saia de lã grossa, deixando ver duas pernas, que a camisa a custo só cobria até
o joelho, grossas, maciças, de uma brancura levemente rósea e toda marcada de
mordeduras de pulgas e mosquitos.
— Avia-te! Anda!
Apressou ela, lançando-se de costas ao chão e arregaçando a fralda até a
cintura; as coxas abertas.
O
estudante atirou-se, sôfrego, sentindo-lhe a frescura da sua carne de
lavadeira, mas sem largar as pernas do coelho.
(o coelho Henrique tinha arematado em um leilão que deu em troca... mas Leocádia queria engravida para dar leite
em troca de dinheiro).
"Quando
o ferreiro, logo em seguida, chegou perto da mulher, esta ainda não tinha
acabado de vestir a saia molhada. "
(Rita acaba ajudando Leocádia a encontra um
local para se arranjar, pois sua casa estava destruída).
IX
Passaram-se
semanas. Jerônimo tomava agora, todas as manhãs, uma xícara de café bem grosso, à moda da Ritinha, e tragava dois
dedos de parati “pra cortar a friagem”.
Uma
transformação, lenta e profunda, operava-se nele, dia a dia, hora a hora,
reviscerando-lhe o corpo.
Piedade pede ajuda a bruxa
(faz macumba)
Marciana
e sua filha Florinda (novo escândalo no 12)
“Marciana andava
já desconfiada com a pequena, porque o fluxo mensal desta se desregrara havia
três meses, quando, nesse dia, não tendo as duas acabado ainda o almoço,
Florinda se levantou da mesa e foi de carreira para o quarto”. A velha
seguiu-a. A rapariga fora vomitar ao bacio.
— Que é isto?...
Perguntou-lhe a mãe, apalpando-a toda com um olhar inquiridor.
— Não sei
mamãe...
— Que sentes
tu?...
— Nada...
— Nada, e estás
lançando?... Hein?!
—
Não sinto nada, não senhora!...
Há
bruxa foi La e afirmou esta grávida.
Elá esta grávida.
"Marciana,
trêmula de raiva, fechou a porta da casa, guardou a chave no seio e, furiosa,
caiu aos murros em cima da filha. Esta, embalde tentando escapar-lhe, berrava
como uma louca”.
E assim todos do Cortiço já sabiam do absurdo
—
Quem foi?! Quem foi?!"(todos criticavam)"
"— Um dia
de manhãzinha, às quatro horas, no capinzal, debaixo das mangueiras...
O
mulherio em massa recebeu estas palavras com um coro de gargalhadas. "
No final este fugiu pra longe.
X
(Miranda
re sebe titulo de Barão)
No
outro dia a casa do Miranda estava em preparos de festa. Lia-se no “Jornal
do Comércio” que Sua Excelência fora agraciado pelo governo português com o
titulo de Barão do Freixal; e como os seus amigos se achassem prevenidos para
ir cumprimentá-lo no domingo, o negociante dispunha-se a recebê-los condignamente.
A filha de Marciana cansada de levar bordoada fugiu de casa, deixando
assim à mãe triste.
João
Romão fica louco com isto que aconte-se com Miranda "o titulo" e
acaba que refletido sobre a vida dele e chega a uma decisão "quero status
social" e começa a desfrutar do se Didi
E
acaba expulsando a Marciana do cortiço por vagabundagem. descontando a raiva
que tinha Nela.
Um
tempo depois Miranda enviou uma carta a João o convidado para a festa,
Ele ficou
a imaginar como seria...
Em uma
roda de Sampa esta RITA FIRMA & JERONIMO
FIRMO
A RANJA BRICA COM JERÔNIMO QUE
QUE
NO FINAL RASGA A BARIGA DE JERONIMO COM UM ESTILETE.
"A vitória
pendia para o lado do português. Os espectadores aclamavam-no já com
entusiasmo; mas, de súbito, o capoeira mergulhou, num relance, até as canelas
do adversário e surgiu-lhe rente dos pés, grupado nele, rasgando-lhe o ventre
com uma navalhada.
Jerônimo soltou
um mugido e caiu de borco, segurando os intestinos.
— Matou! Matou!
Matou! Exclamaram todos com assombro.
Os apitos
esfuziaram mais assanhados.
Firmo varou
pelos fundos do cortiço e desapareceu no capinzal.
—
Pega! Pega! "
Mas nisto um
estardalhaço de formidáveis pranchadas estrugiu no portão da estalagem. O
portão abalou com estrondo e gemeu.
— Abre! Abre! Reclamavam
de fora.
João Romão
atravessou o pátio, como um general em perigo, gritando a todos:
— Não entra a
polícia! Não deixa entrar! Aguenta! Aguenta!
— Não entra! Não
entra! Repercutiu a multidão em coro.
E todo o cortiço
ferveu que nem uma panela ao fogo.
— Aguenta! Aguenta!
Jerônimo foi
carregado para o quarto, a gemer, nos braços da mulher e da mulata.
— Aguenta! Aguenta!
De cada casulo tinha
homens armados de pau, achas de lenha, varais de ferro. Um empenho coletivo os
agitava agora, a todos, numa solidariedade briosa, como se ficassem desonrados
para sempre se a polícia entrasse ali pela primeira vez. Enquanto se tratava de
uma simples luta entre dois rivais, estava direito! “Jogassem lá as cristas,
que o mais homem ficaria com a mulher!”, mas agora se tratava de defender a
estalagem, a comuna, onde cada um tinha a zelar por alguém ou alguma coisa
querida.
—
Não entra! Não entra!
O Bruno, todo
sujo de sangue, estava agora armado de um refle e o Porfiro, mestre na
capoeiragem, tinha na cabeça uma barretina de urbano.
— Fora os
morcegos!
— Fora! Fora!
E, a cada
exclamação, tome pedra! Tome lenha! Tome cal! Tome fundo de garrafa!
Os apitos
estridulavam mais e mais fortes.
Nessa ocasião,
porém, Nenen gritou, correndo na direção da barricada.
— Acudam aqui!
Acudam aqui! Há fogo no número 12. Está saindo fumaça!
— Fogo!
A
esse grito um pânico geral apoderou-se dos moradores do cortiço. Um incêndio
lamberia aquelas cem casinhas.
Os
policiais invadem tudo e quebra o que vem pela frente, um tempo depois cai um
pé da água.
XI
A
Bruxa, por influência sugestiva da loucura de Marciana, piorou do juízo e
tentou incendiar o cortiço.
Enquanto
os companheiros o defendiam a unhas e dentes, ela, com todo o disfarce, carregavam
palha e sarrafos para o número 12 e preparava uma fogueira. (mas ninguém sabia
quem era o autor)
RITA
foi ajudar Jerônimo para melhorar depois Piedade levou o para o Hospital,
Onde
ficou a melhorar,
Um tempo depois
Vem cá, minha
flor!... Disse-lhe, puxando-a contra si e deixando-se cair sobre um divã.
Sabes? Eu te quero cada vez mais!... Estou louca por ti!
E
devorava-a de beijos violentos, repetidos, quentes, que sufocavam a menina,
enchendo-a de espanto e de um instintivo temor, cuja origem a pobrezinha, na
sua simplicidade, não podia saber qual era.
No
dia seguinte de ser estrupada ela foi aos redores do cortiço e o sangue saiu de
lá...
A
natureza sorriu-se comovida (...), um dos seus raios descia em fio de ouro
sobre o ventre da rapariga, abençoando a nova mulher que se formava para o
mundo.
XII
Pombinha
ergueu-se de um pulo e abriu de carreira para casa.
—
Minha filha é mulher! Minha filha é mulher!
O
fato abalou o coração do cortiço, as duas receberam parabéns e felicitações.
E a
partir desse dia Dona Isabel mudou completamente. As suas rugas alegraram-se;
ouviam-na cantarolar pela manhã, enquanto varria a casa e espanava os móveis.
"Bruno" A mulher, que a principio não lhe fizera
grande falta, agora o torturava com a sua distancia; um mês depois da
separação, o desgraçado já não podia esconder o seu sofrimento e ralava-se de
saudades. A Bruxa, a pedido dele, tirou a sorte nas cartas e disse-lhe
misteriosamente que Leocádia ainda o amava.
Só
Dona Isabel e a filha andavam deveras satisfeitas. O resto estava triste
Pombinha
acaba se casando com Costa.
Bruno
o chifrado por causa de um coelho esta pedindo à pombinha que se escreve uma
carta para a mulher voltar.
Ele
chorou e pombinha vendo o poder de uma mulher viu que ela podia fazer com os
outros, pois ela tinha o mesmo poder.
XIII
“Cabeça
de Gato” concorrente do SÃO ROMÃO
João
Romão ficou puto com aquela ameaça.
Os
dois cortiços eram rivais
A
batalha era inevitável. Questão de tempo.
Firmo,
assim que se instaurara a nova estalagem, abandonou o quarto na oficina e
meteu-se lá de súcia com o Porfiro, apesar da oposição de Rita, que mais
depressa o deixaria a ele do que aos seus velhos camaradas de cortiço.
João
Romão
Desde
que o vizinho surgiu com o baronato, o vendeiro transformava-se por dentro e
por fora a causar pasmo. Mandou fazer boas roupas e aos domingos refestelava-se
de casaco branco e de meias, assentado defronte da venda, a ler jornais.
O
Miranda tratava-o já de outro modo.
Bertoleza
é que continuava na cepa torta, trabalho e trabalho.
Botelho
vai à venda de João e propõe que case com ZUMIRA.
—
Caso o meu nobre amigo se decida pelos vinte, receberá do Barão um chamado para
lá ir jantar ao primeiro domingo; aceita o convite, vai, e encontrará o terreno
preparado.
O almoço ocorreu, mas tinha uma coisa que atrapalhava
o plano a Bertoleza.
— E se ela morresse?...
XIV
Iam-se
assim os dias, e assim mais de três meses se passaram depois da noite da
navalhada.
Jerônimo
tivera alta do hospital
Ao
cair da noite, Jerônimo foi, como ficara combinado, à venda do Pepé. Os outros
dois já lá estavam. Infelizmente, havia mais alguém na tasca. Tomaram juntos,
pelo mesmo copo, um martelo de parati e conversaram em voz surda numa
conspiração sombria em que as suas barbas roçavam umas com as outras. (eles
estavam combinados à morte de Firmo)
XV
Opataca
entra no boteco a procura de firmo, mas encontra.
O Pataca bateu
no ombro da rapariga.
— Como vais tu, Florinda?
Ela olhou para
ele, rindo; disse que ia bem, e perguntou-lhe como passava.
— Rola-se,
filha. Tu que fim levaste? Há um par de quinzes dias que te não vejo!
— E mesmo. Desde
que estou com seu Bento não tenho saído quase.
— Ah! (disse o
Pataca), estás amigada? Bom!...
—
Sempre estive!
— E tua mãe?
— Coitada! Foi
pro hospício...
E
passou logo a falar a respeito da velha Marciana; o Pataca, porém, já lhe não
prestava atenção, porque nesse momento acabava de abrir-se a cortina vermelha,
e Firmo surgia muito ébrio, a dar bordos, contando, sem conseguir, uma massacrada
de dinheiro, em notas pequenas, que ele afinal entrouxou num bolo e recolheu na
algibeira das calças.
Pataca
leva o firmo na conversa e o leva para fora fazendo a pensa que tinha Rita ao
esperar
(foi
ai que mataram o firmo a golpes e depois o jogaram no rio).
(Jerônimo
só ficou com a navalha dele para depois mostrar a Rita Baiana)
Jerônimo
propôs que saíssem dali, ela concordou.
XVI
Mas no dia seguinte a Piedade já estava sabendo de
tudo.
Quando ela viu A rapariga
Começou
tapas e socos no meio do CORTIÇO quando
piedade estava levando uma sura da brasileira, os portugueses queriam separar a
briga, mas os brasileiros não deixaram,
Até
uns começarem a socar os outros do cortiço (...).
Até
os cabeças de gato invadir o São Romão
Para
a batalha e todos param de se bater pra defendem o cortiço.
Eles
vinham dar batalha aos carapicus, pra vingar com sangue a morte de Firmo, seu
chefe de malta.
XVII
Lá
na janela do Barão, o Botelho, entusiasmado como sempre por tudo que lhe
cheirava a guerra, soltava gritos de aplauso e dava brados de comando militar.
Mas um fato veio neutralizar inda uma vez a
campanha: imenso rebentão de fogo esgargalhava-se de uma das casas do fundo, o
número 88. E agora o incêndio era a valer.
Houve nas duas
maltas um súbito espasmo de terror. Abaixaram-se os ferros e calou-se o hino de
morte. Um clarão tremendo ensanguentou o ar, que se fechou logo de fumaça
fulva.
A Bruxa
conseguira afinal realizar o seu sonho de louca: o cortiço ia arder; não
haveria meio de reprimir aquele cruento devorar de labaredas. Os cabeças de
gato, leais nas suas justas de partido, abandonaram o campo, sem voltar o
rosto, desdenhosos de aceitar o auxilio de um sinistro e dispostos até a
socorrer o inimigo, se assim fosse preciso. E nenhum dos carapicus os feriu
pelas costas. A luta ficava para outra ocasião. E a cena transformou-se num
relance; os mesmos que barateavam tão facilmente a vida apressavam-se agora a
salvar os miseráveis bens que possuíam sobre a terra. Fechou-se um entra e sai
de maribondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo fogo.
A
Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa. Estava
horrível; nunca fora tão bruxa.
E
ela ria-se, ébria de satisfação, sem sentir as queimaduras e as feridas,
vitoriosa maluca.
Ia
atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa
incendiada, que abateu rapidamente, sepultando a louca num montão de brasas.
O
cortiço só não pegou fogo por causa dos bombeiros.
XVIII
Quando
o velho Libório, depois de escapar de morrer na confusão do incêndio, fugia
agoniado para o seu esconderijo, João Romão seguiu-o com disfarce e observou
que o miserável, mal deu luz à candeia, começou a tirar ofegante alguma coisa
do seu colchão imundo.
Eram
garrafas. Tirou à primeira, a segunda, meia dúzia delas. Depois puxou às
pressas a coberta do catre e fez uma trouxa. Ia de novo ganhar a saída, mas
soltou um gemido surdo e caiu no chão sem força, arrevessando uma golfada de
sangue e cingindo contra o peito o misterioso embrulho.
Quando
o vendeiro lha arrancou das garras com violência.
No
dia seguinte a polícia averiguou os destroços do incêndio e mandou proceder
logo ao desentulho, para retirar os cadáveres que houvesse.
Mortos
Um
dos italianos feridos morreu na Misericórdia e o outro, também lá, continuava
ainda em risco de vida.
Filha da Augusta
O
enterro da pequenina foi feito à custa de Léonie,
O
Miranda apresentou-se na estalagem logo pela manhã, o ar compungido, porém
superior. Deu um ligeiro abraço em João Romão, falou-lhe em voz baixa,
lamentando aquela catástrofe, mas felicitou-o porquê tudo estava no seguro.
O
vendeiro, com efeito, impressionado com a primeira tentativa de incêndio,
tratara de segurar todas as suas propriedades; e, com tamanha inspiração o fez
que, agora, em vez de lhe trazer o fogo prejuízo, até lhe deixaria lucros.
XIX
Daí
a dias, com efeito, a estalagem metia-se em obras. ren ovaçao do cortiço
Os
que ficaram sem casa foram aboletados a trouxe e mouxe por todos os
cantos, à espera dos novos cômodos. Ninguém se mudou para o "Cabeça de
Gato".
Piedade,
essa e que se levantou das febres completamente transformada (depois da sura).
Não parecia a mesma depois do abandono de Jerônimo; emagrecera em extremo,
perdera as cores do rosto, ficara feia, triste e resmungona; mas não se
queixava, e ninguém lhe ouvia falar no nome do esposo.
O
lugar em que ele dormia com Bertoleza, a cozinha e a casa de pasto seriam
abobadadas, formando, com a parte de taverna, um grande armazém, em que o seu
comércio iria fortalecer-se e alargar-se. (Didi do velho e o seguro).
Maldita preta
dos diabos! Era ele o único defeito, o senão de um homem tão importante e tão
digno.
Agora,
não se passava um domingo sem que o amigo de Bertoleza fosse jantar à casa do
Miranda.
João
Romão ia ao teatro e o ao diabo com Miranda bebiam, faziam coisas quase jutos
com a família do barão "Miranda”.
Botelho havia
dito ao vendeiro:
— Faça o pedido!
É ocasião.
— Hein?
— Pode pedir a
mão da pequena. Está tudo pronto!
— O Barão dá-ma?
— Dá.
— Tem certeza
disso?
— Ora! Se não
tivesse não lho diria deste modo!
— Ele prometeu?
—
Falei-lhe; fiz-lhe o pedido em seu nome. Disse que estava autorizado por você.
Fiz mal?
Jerônimo
já estava abrasileirado, não pagava mais o colégio da filha que foi morar com a
mãe.
XX
João
Romão conseguira meter o sobrado do vizinho no chinelo;
Aumentando
sua casa e as outras casinhas
Em vez de
"Estalagem de São Romão" lia-se em letras caprichosas:
"AVENIDA SÃO ROMÃO"
O
"Cabeça de Gato" estava vencido finalmente, vencido para sempre; nem
já ninguém se animava a comparar as duas estalagens.
XXI
Com
o aumento das casas moradores saião das antigas e ia para outro lugar, morarem.
Maior parte para o "cabeça de gato"
Botelho
perguntou a João Romão ela é escrava sim de quem e dai surgiu a ideia do
parasita de entregar para os donos a escrava
XXII
A
Machona tia um filho que morreu ao brincar na pedreira
Ele
caiu ficando todo desfigurado.
"Agostinho"
nome do menino
Bertoleza
desconfiará de algo estranho, mas continuava a trabalha.
XXIII
Parte
final Bertoleza este ha limpar o peixe com uma faca e quando chegaram os donos
da escrava Bertoleza logo viu que a carta de alforria era falsa e haver os
policiais Enfiou uma faca no meio da barriga e rasgou
Nesse momento
parava à porta da rua uma carruagem. Era uma comissão de abolicionistas que vinha
de casaca! Trazer-lhe respeitosamente o diploma de sócio benemérito.
Ele
mandou que os conduzissem para a sala de visitas.
Eram
cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua
infinidade de portas e janelas alinhadas.
O Cortiço era abordado como um organismo.
O Cortiço era abordado como um organismo.
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